Descentrada, vol. 2, nº 1, e034, marzo 2018. ISSN 2545-7284
Universidad Nacional de La Plata. Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación.
Centro Interdisciplinario de Investigaciones en Género (CInIG)



DOSSIER / DOSSIER
Género y Música

 

A emergência do campo de música e gênero no Brasil: reflexões iniciais




Camila Durães Zerbinatti

Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas – Área de Concentração em Estudos de Gênero. Bolsista Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Brasil
camiladuze@gmail.com


Isabel Porto Nogueira

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Artes. Grupo de Pesquisas em Estudos de Gênero, Corpo e Música, Brasil
isabel.isabelnogueira@gmail.com



Joana Maria Pedro

Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em História, Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, IEG - Instituto de Estudos de Gênero, Brasil
joanamaria.pedro@gmail.com




Cita sugerida: Zerbinatti, C. D., Nogueira, I. P. y Pedro, J. M. (2018). A emergência do campo de música e gênero no Brasil: reflexões iniciais. Descentrada, 2(1), e034. http://www.descentrada.fahce.unlp.edu.ar/article/view/DESe034

 


Resumo
Através de resultados iniciais de mapeamento em andamento das produções sobre “mulheres, feminismos, gênero e música” no Brasil, apresentamos a interpretação de que existe um campo em emergência e construção coletivas no país – vemos o campo “música e gênero”, como uma “onda” que emerge na área da música e que vem estruturando-se desde 1978. Propomos reflexões críticas relacionadas ao campo e suas relações (internas e externas) a partir das musicologias e epistemologias feministas e das relações entre teoria e prática no campo. Combinando abordagens quantitativas e qualitativas, observamos a constituição híbrida, múltipla, heterogênea, coletiva e plural do campo.

Palavras-chave: Música e gênero; Musicologias feministas; Epistemologias feministas; Brasil



The emergence of the field of music and gender in Brazil: initial reflections

 

Abstract
Through initial results of the mapping in progress of productions on "women, feminism, gender and music" in Brazil, we present the interpretation that there is an emerging field of shared collective construction in the country. We see the field "music and gender" as a "wave" that emerges in the area of music and has been in the process of construction since 1978. We propose critical reflections related to the field and its relations (internal and external) from the perspective of the feminist musicologies and the feminist epistemologies as well as the relations between theory and practice in the field. Combining quantitative and qualitative approaches, we observe the hybrid, multiple, heterogeneous, collective and plural constitution of the field.

Keywords: Music and gender; Feminist musicologies; Feminist epistemologies; Brazil.



1. Introdução

Invisto em uma forma de olhar que quer captar o contraditório,
que para tanto usa novas lentes e abusa,
subverte os próprios conceitos e os desafia.
Com isso pretendo assumir o “olhar diaspórico”
que quebra o discurso determinante de uma cultura
que se considera homogênea,
questionando a relação entre as identidades
e evidenciando o fluxo e o refluxo existente
entre as possibilidades dos sujeitos em (re)inventar a sua vida”.
(Possas, 2011, p. 64).


Esta pesquisa propõe a interpretação do campo “música e gênero” no Brasil como um campo em emergência, heterogêneo, híbrido, múltiplo, construído coletivamente, como em uma “onda” de publicações e práticas, que vem emergindo e sendo gradativa e socialmente construído no macro campo do conhecimento da música. Para tanto, a nossa proposta é observar a emergência do campo através do mapeamento de livros e de pesquisas de pós-graduação que focalizam “mulheres, feminismos, gênero e música” no país, em um esforço para reconhecer também a produção de conhecimentos já realizada neste campo no Brasil como uma produção heterogênea e inter-relacionada.

A presente abordagem pretende oferecer uma perspectiva que não reproduza “narrativas fundadoras” e “narrativas de origem” calcadas em personalidades, indivíduos, em ideias de “origens”, “pioneirismos” e “fundação”. A partir do pensamento crítico da historiadora Joana Maria Pedro (2006), entendemos que abordar a emergência do campo desde o panorama diversificado e possivelmente inclusivo (ou, menos excludente) oferecido por um mapeamento - em andamento -, seguido por reflexões iniciais de pesquisa, constitui uma alternativa abrangente para tratar da emergência deste campo. Incluímos nos resultados apresentados todas as produções em livros e em pesquisas de pós-graduação que tivemos conhecimento até a finalização deste texto. Nós entendemos este campo como um universo social e de conhecimento heterogêneo, em construção e que ainda não está acadêmica e institucionalmente estruturado e legitimado em torno de diferentes tipos de associações ou organizações específicas de pesquisa ou de atuação profissional –como a International Alliance for Women in Music (IAWM), por exemplo— que tenham alcance, atuação, composição e representatividade nacional.

Teceremos reflexões sobre as imbricações entre as musicologias e epistemologias feministas e a necessária relação entre teorias e práticas feministas no campo. Reconhecemos as limitações que o recorte e o escopo deste artigo apresentam, impossibilitando o esgotamento de análises sobre o levantamento apresentado, que pode e precisa ser feito sobre este campo - inclusive por meio de consulta à outras fontes e tipos de publicação. Partimos da noção de campo como elaborada por Pierre Bourdieu, para quem campo é “(…) um universo no qual estão inseridos os agentes e as instituições que produzem, reproduzem ou difundem a arte, a literatura ou a ciência. Esse universo é um mundo social como os outros, mas que obedece a leis sociais mais ou menos específicas” (Bourdieu, 2003, p. 20). É nesse sentido que trabalhamos com a noção de um campo de música e gênero no Brasil: como um campo de conhecimento (ou, um subcampo dentro do macro campo da música), marginal e marginalizado, em que, ao longo das últimas quatro décadas, diferentes agentes têm produzido, reproduzido e difundido reflexões e conhecimentos sobre música e gênero no Brasil.

Os saberes aqui produzidos e apresentados são localizados em nossos lugares e experiências de mulheres brancas (segundo o contexto em que estamos), cis-gênero, de classes médias, brasileiras, latino-americanas, feministas, com formação universitária no âmbito da graduação e pós-graduação, e dedicadas aos estudos e pesquisas feministas e de gênero no Brasil, no campo da música e no campo da história das mulheres. Falamos também, portanto, como agentes inseridas no campo de música e gênero no Brasil – bem como nos outros campos referidos - de diferentes formas, com diferentes pontos de vista e desde diferentes momentos de inserção. Na tentativa de revisitar e reconhecer a produção do campo, partimos aqui de nossas experiências situadas e diversas nesse(s) campo(s) e no macro campo da música, inspiradas por María Luisa Femenías (2007), que aponta a importância da localização do conhecimento para a construção de perspectivas teórico-reflexivas feministas latino-americanas que abarquem nossa situação:

“Nossa resposta apela ao locus e o ubi da nossa condição geo-sociopolítica, à nossa consciência de real contribuição para o discurso feminista e de maneira que nos permita organizar explicações alternativas em termos de contribuições teóricas que promovam uma melhor elaboração, elucidação e compreensão de teses outras filtradas por nossa experiência crítica. Tais conhecimentos - posicionados, parciais, localizados - admitem a possibilidade de conexões em sistemas deslocados que dêem melhor conta da nossa situação. Por isso, um primeiro passo é revisitar nossas próprias contribuições teóricas ressignificadas” (Femenías, 2007, p. 14).1

2. Metodologia(s)

A metodologia mista empregada nesta pesquisa combina técnicas quantitativas e qualitativas (Narvaz & Koller, 2006). A combinação dessas abordagens pretende contribuir para processos e estratégias de mudanças sociais no macro campo da música no Brasil e na América do Sul, apontando para possíveis processos de marginalização do e no campo de música e gênero. Entendemos que estes dois paradigmas de pesquisa oferecem possibilidades de investigação tanto ao problema de mapeamento, reconhecimento e demonstração da materialidade do campo, como às questões que se abrem ao pensarmos o campo crítica e reflexivamente, compreendendo-o como domínio / espaço instável, em processo, transformação, disputas e construção.

O trabalho quantitativo é realizado através de um mapeamento de publicações realizadas no Brasil sobre “mulheres, feminismos, gênero e música” - com perspectivas feministas e de gênero, ou não – dentro do escopo oferecido por livros e pesquisas de pós-graduação concluídas ou em andamento até meados de 2017 no país. A procura de publicações e pesquisas foi feita na internet (através da ferramenta Google Books) e na base de dados de currículos da Plataforma Lattes do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), pelo mecanismo de busca simples. Por conta do recorte proposto não mapeamos artigos e monografias neste texto, mas reconhecemos que eles também fazem parte da pesquisa em andamento e que são fundamentais para a construção do campo em emergência, como, dentre tantas/os outras/os, os de Valéria Andrade, Carlos Palombini e de Rita L. Segato (referência em estudos feministas e de gênero que começou sua trajetória acadêmica na etnomusicologia). Nesse sentido, referenciamos e reconhecemos a ampla pesquisa de mapeamento da produção de conhecimento sobre presenças e ausências de mulheres e questões de gênero na pesquisa em música do Brasil (com diversas bases de dados consultadas e problematização dos resultados obtidos) que vêm sendo desenvolvida pelo Feminaria Musical - Grupo de pesquisas e experimentos sonoros, da Universidade Federal da Bahia, coordenado por Laila Rosa.

A abordagem qualitativa é realizada através de reflexões críticas e teóricas sobre alguns pontos do campo, relações com outros campos e macro campos, e também por discussões sobre seu surgimento, continuidade e interconexões com teorias e críticas feministas. Nosso maior objetivo aqui é alcançar, com sorte, “um tipo de locus catalizador que favorece conceitualizações e práticas inovadoras e alternativas” (Femenías, 2007, p. 24),2 através de diferentes aportes teóricos e críticos como aqueles oferecidos principalmente por Bourdieu (2003), Castagna (2008), Harding (1987), Femenías (2007), hooks (2013),3 Matos (2010), Mello (2007), Possas (2011) e Rago (2012).

3. Livros e pesquisas de pós-graduação em música e gênero no Brasil: um levantamento inicial e uma possível contextualização

Suzanne Cusick (2001) levanta a discussão sobre a marginalidade, na música, das questões de gênero, feministas e relacionadas às mulheres, e aponta essa situação como um dos problemas sobre os quais a musicologia precisa se debruçar (Cusick, 2001, p. 471-475). Partimos do pressuposto apontado por Susan Mcclary (1993), de que “(...) a história das mulheres [e das questões de gênero] na música é digna de ser estudada (...)” (Mcclary, 1993, p. 402).4 Com relação ao contexto latino-americano e brasileiro em que a produção em música aqui abordada se insere, observamos a importância de apontar que, em (e sobre) contextos específicos, o presente artigo trata de temáticas, campos, áreas e sujeitos/as considerados/as “Outros/as” por diversas hegemonias no campo de música e gênero no Brasil – como o Ocidente, o Norte global e o pensamento colonial eurocentrado, por exemplo (Femenías, 2007).

O contexto histórico e social da América Latina afeta diretamente os mecanismos de inclusão e de exclusão das mulheres no continente, nas mais diversas áreas e campos, interferindo diretamente na condição de extrema desigualdade que prejudica em especial as mulheres, e, ainda mais, as mulheres não-brancas do território e ainda outras (posto que a discriminação de gênero é potencializada pelas discriminações de raça-etnia, mas também de classe/ econômica, geração, orientação e identidade sexual, religião, deficiência/ corporalidade, e, região/ geopolítica) (Femenías, 2007). Falar sobre produções sobre mulheres, gênero, feminismos e música no Brasil é, também, ter no horizonte opressões, subalternizações, desigualdades, exclusões, assimetrias e marginalizações múltiplas, coexistentes, entrecruzadas e interseccionadas, o que demanda de nós “ruptura[s] político-epistemológica[s] dos contextos já naturalizados”, institucionalizados e estabelecidos, a fim de que seja possível gerar “(...) espaços diversos para pensar, explicar e dar voz própria às múltiplas forças étnicas, sexuais, econômicas, culturais que se precipitam no lugar do novo” (Femenías, 2007, p. 15).5

Nesse sentido, no intuito de visibilizar, audibilizar e reconhecer produções sobre mulheres, gênero e música feitas no Brasil, contribuindo para o trânsito dessas realizações, apresentamos no Quadro 1 (veja Anexo, Quadro 1) resultados iniciais de mapeamento em andamento sobre itens relacionados ao tema (entre livros, dissertações, teses e pesquisas de mestrado/ doutorado/ pós-doutorado concluídas e em andamento), coletados até agosto de 2017, agrupados por décadas e organizados em ordem cronológica crescente. Optamos por apresentar os resultados em um quadro por entendermos que dessa forma a compreensão dos dados é facilitada pela apresentação sistemática, organizada, resumida e descritiva. Além disso, a separação da produção por décadas, apresentada no Quadro 1 pelo auxílio da coluna temporal, pode auxiliar a relação entre o quadro e os gráficos posteriores.

Os dados apresentados no Quadro 1 mostram que até o momento de conclusão desse artigo foram encontrados 141 trabalhos, dos quais 3 (2,1%) estão localizados na década de 1970, 6 (4,2%) na década de 1980, 5 (3,5%) na década de 1990, 41 (29%) na década de 2000 e 86 (60,9%) na década de 2010. A análise da distribuição temporal dos trabalhos levantados, ilustrada pelo Gráfico 1, nos fornece indicadores consistentes da emergência de uma “onda” coletiva de produções no campo, localizada no período entre os séculos XX e XXI. O campo emerge e se intensifica especialmente a partir dos anos 2000, graças à soma de diversos esforços individuais, em um crescente e notório processo de construção plural e coletiva do campo, em acúmulo de conhecimento e de reflexões críticas. O Gráfico 1 ilustra a distribuição temporal-estatística da produção levantada entre 1978 e 2017, período de quase 40 anos:


Gráfico 1 - Distribuição temporal-estatística da produção levantada entre 1978 e 2017 no campo de música e gênero no Brasil.


Dos 141 trabalhos encontrados, 127 (90%), se encontram nas décadas dos anos 2000 e 2010. Mais da metade da produção (60,9%), encontra-se a partir de 2010, o que confirma o movimento crescente de emergência do campo. O marco inicial desta produção, no fim dos anos 1970, parece estar relacionado à força da segunda onda feminista no Brasil, da década de 1970 (Matos, 2010, p. 68), marcada por importantes movimentos e eventos feministas no Brasil e no mundo. Os dados mostram que o campo foi iniciado e permanece sendo construído por uma diversa, ampla e variada gama de autores/as, desde o primeiro ano de publicação verificado (1978) até o presente momento, o que também aponta para uma historicidade coletiva e plural do campo. O Gráfico 2 apresenta a distribuição percentual dos dados coletados bem como suas relações com o total de dados, mostrando a predominância da década de 2010 e do período dos anos 2000 e 2010 na produção sobre “mulheres, feminismos, gênero e música” no Brasil, além de oferecer outra representação gráfica para a emergência crescente do campo:


Gráfico 2: Distribuição percentual dos dados coletados.


Se o crescimento inédito e expressivo do campo nos anos 2000 e 2010, nos quais se encontram mais de 90% da produção, conferem e atestam materialidade estatística e expansão crescente ao domínio “música e gênero” enquanto um campo de conhecimento emergente – e que é também múltiplo, plural, heterogêneo, multi/ trans/ e interdisciplinar, tanto na diversidade de autoras/es, quanto também nos focos de pesquisa e distribuição geográfica de produção - o crescimento e intensificação da “onda” nestas décadas parecem também estar ligados ao contexto sócio-histórico-cultural-político brasileiro.

Nas primeiras décadas do século XXI observamos, também no Brasil, a emergência da chamada quarta onda feminista (Matos, 2010), e fatos como: sanção das duas primeiras leis que combatem diretamente violências de gênero contra mulheres (Lei Maria da Penha - Lei 11340/06, e, Lei do Feminicídio - 13.104/15); eleição e reeleição de nossa primeira presidenta da república (Dilma Rousseff, em 2010 e 2014); grandes manifestações de mulheres (Marchas das Mulheres, Marchas das Mulheres Negras, Marchas das Margaridas, Marchas das Vadias, Primavera das Mulheres, #8M – Greve Internacional De Mulheres, entre várias outras); hashtags de campanhas feministas (#MeuPrimeiroAssédio, #MeuAmigoSecreto, #AgoraÉQueSãoElas, #NenhumaAMenos – diretamente inspirada pela argentina #NiUnaMenos - , entre muitas demais).

Nesse mesmo momento, observamos, no macro campo da música no Brasil (em seus âmbitos formais e informais), o surgimento de grupos de pesquisas acadêmicos dedicados à música e gênero como o Feminaria Musical – UFBA, o Grupo de Pesquisas em Estudos de Gênero, Corpo e Música – UFRGS, o Grupo de Pesquisa Interdisciplinar MUCGES (Música, Corpo, Gênero, Educação e Saúde) – UFPB, o Grupo de Pesquisa musicAR: Artisticidade. Cultura. Educação Musical – UDESC), o aparecimento de articulações, iniciativas, festivais, eventos e coletâneas (baseadas/os e organizadas/os em grande medida na internet) voltadas/os para as mulheres na música, como: Sonora – Ciclo Internacional de Compositoras; Feminine Hi-Fi; Coletivo Mulheril; Polymnia​; Hard Grrrls; Rede Sonora – músicas e feminismos; Women´s Music Event; Maria Bonita Fest; Palavra Preta: Mostra nacional de negras autoras; Projeto Dissonantes; Hystereofônica; Girls Rock Camp; Ladies Rock Camp; Efusiva Festival; Mostra XX – XX; U.M.M.A. - União das Minas pela Música e Artes; coletivos de mulheres do Rap e do Hip-Hop, entre outras iniciativas, como as Viradas Culturais Feministas, por exemplo (Nogueira, 2017; Hard Grrrls, 2016). Localizamos em todos estes exemplos o objetivo de audibilizar, visibilizar, pesquisar e reconhecer mulheres, outras populações historicamente excluídas e questões e relações de gênero na música - assim como o fizera anteriormente o Encontro Internacional de Compositoras (organizado pela compositora Maria Helena Rosas Fernandes entre 1993 e 2004) e como o fazem outros grupos e redes feministas e de gênero.

4. O campo de música e gênero no Brasil: construção e resistências externas

Até o momento, com relação à produção levantada em nosso mapeamento, percebemos que o que houve e está havendo no macro campo da música do Brasil é uma “emergência coletiva do campo”, uma “onda feminista” do e no campo de música e gênero, construída e protagonizada por um grande e heterogêneo grupo de autoras/es que se dedicam e se dedicaram ao campo, com suas múltiplas vozes e vocalizações (teóricas e práticas). Estamos observando o surgimento de uma ampla e variada gama de pesquisas, autoras/es e ações precursoras, iniciadoras e continuadoras do campo, que chegam, historicamente, logo depois das primeiras pesquisas e iniciativas nessas temáticas – que, no Brasil, tiveram foco significativo em mulheres compositoras, mas não só. Ambos os momentuns ainda estão em curso, se entrecruzam, estão em diálogo, interdependência, inter-relação, se influenciam, e acontecem de forma não-linear, mas ou em simultaneidades, ou em continuidades e descontinuidades.

Especialmente nos anos 2000 e 2010, em diferentes lugares do país, pessoas produziam/ produzem sobre o tema, e uma das temáticas principais das pesquisas foram as atividades musicais de mulheres - em grande parte, de compositoras, mas também as diversas práticas musicais de mulheres em (e sob) diferentes contextos, papéis e perspectivas teóricas. A observação de que trabalhos concomitantes existiram/ existem está de acordo com premissas feministas que buscam observar o hibridismo das práticas e dos processos, assim como a inclusão e o reconhecimento de diferentes lugares de fala, de experiência e de produção de sentido, para que possamos expandir a compreensão rumo à uma história que não se pense única, homogênea e laudatória, onde apenas poucas personagens são/ sejam ouvidas e reconhecidas (Femenías, 2007; hooks, 2013; Possas, 2011; Rago, 2012).

Mesmo que os primeiros trabalhos sobre música e gênero não apresentassem perspectivas feministas e de gênero, nosso entendimento, a partir de compreensões ancoradas na historiografia das mulheres e nas musicologias feministas, é o de que já formavam uma malha de produção de sentido e de pesquisa, abrangendo diferentes acessos, pontos de escuta, perspectivas e lugares - numa co-existência de temporalidades, localizações, interpretações e subjetividades múltiplas que constituem o campo de gênero e música no Brasil (Rago, 2012, pp. 32 – 45). Como se o desejo, a vontade e a necessidade da escrita sobre o tema, e da problematização destas questões, povoassem um possível imaginário compartilhado por pessoas de diferentes lugares do país, ainda que esta demanda não tenha, nos momentos iniciais, sido externamente deliberada ou organizada, ou que não tenha gerado um contato pessoal efetivo entre as pessoas.

Se olharmos em retrospecto, é possível ver em grande parte dessa produção o esforço (constituinte das epistemologias feministas) de resgatar as mulheres como agentes do conhecimento e das práticas musicais, como sujeitas/os dos saberes e fazeres da música (Harding, 1987, p. 3). Ou seja, é possível dizer que as pesquisas dedicadas à resgatar e reconstruir a memória e a história das mulheres na música, realizavam – e realizam - uma das tarefas reivindicadas pelas musicologias feministas que, diante da ausência muitas vezes completa das mulheres na música “(...) procuram resgatar da obscuridade as mulheres e a obra musical das mulheres (composicionais ou de outros tipos) que têm sido marginalizadas nas narrativas da musicologia” (Cusick, 2001, p. 484).6

Uma parcela significativa das pesquisas de pós-graduação situadas no campo de música e gênero do Brasil, presentes neste mapeamento, foram e são desenvolvidas em outros macro-campos do conhecimento que não a música: há pesquisas na antropologia social, na educação, nas artes cênicas, na linguística, nas letras, na sociologia, na psicologia, na história, na teoria literária, nas ciências humanas, e em outras áreas e campos. Por um lado, isto aponta para a inter/ multi/ trans disciplinaridade do campo de música e gênero no Brasil. Por outro lado, é possível dizer, a partir dos dados do levantamento, de maneira geral, com as devidas ressalvas e reconhecimento de exceções, que há presença significativa de perspectivas críticas e teóricas feministas, de gênero e culturais nas pesquisas realizadas nestes outros campos, mas, ao mesmo tempo, menor regularidade (ou inexistência) destas mesmas abordagens nas pesquisas realizadas no macro-campo da música - salvo exceções pontuais.

Levantamos aqui a hipótese de que, talvez, isto seja um indicador de um processo de assimilação das críticas sociológicas da cultura e das artes ainda em curso no macro-campo da música – possivelmente já mais aprofundado em outros campos do conhecimento. Um considerável número de estudos críticos, distribuídos ao longo das últimas décadas, aponta para as persistentes vigência e predominância de pressupostos e ideais historicamente constituintes da/ na música – especialmente nas músicas feitas e pesquisadas no âmbito acadêmico - como: objetividade; racionalidade; universalidade; neutralidade; desincorporeidade (disembodiment); assexualidade; transcendência; “música em si” / “música absoluta”; “arte autônoma” e isenta de qualquer crítica sociológica da cultura; superioridade/ autonomia/ transcendência estética e cultural; paradigma de “arte absoluta”, desincorporada e dessubjetivada (Citron, 1990; Cusick, 2011; Kermann, 1985; Mcclary, 1994; Mello, 2007; Shaw-Miller, 2013; Wolff, 1987; entre muitos/as outros/as).

As musicologias feministas vêm apontando o quanto estes ideais e pressupostos estão por trás de muitos mecanismos e estruturas de exclusão sistemática de mulheres, de questões de gênero - e de outras questões e grupos historicamente excluídos - da música e da história da música. Similarmente, há indicações por parte da nova musicologia de que esse conjunto de ideias precisa ser problematizado na música também pelas críticas e teorias feministas e de gênero.7 Sobre o processo em curso de assimilação de visões críticas e reflexivas no macro-campo da música no Brasil, que passa pelo ultrapassamento de um positivismo absoluto, protagonizado principalmente pela nova musicologia, Paulo Castagna afirma que: “No Brasil o início dessa superação do positivismo começou a ocorrer na década de 1990, porém a nova musicologia brasileira está apenas no início de seu desenvolvimento, restando ainda muito tempo para sua efetiva consolidação” (Castagna, 2008, p. 13).

Temos observado propostas de pesquisas sobre mulheres na música e com perspectivas feministas e de gênero serem recusadas em congressos e periódicos de música no Brasil sob avaliações negativas, em pareceres científicos, com alegações como as seguintes: que a presença de perspectivas e abordagens feministas e de gênero, nestas investigações, “pervertem/deturpam as pesquisas”, acarretam “falta de objetividade e de isenção científica”, impedem a imparcialidade que “os verdadeiros cientistas e pesquisadores devem ter e perseguir”, entre outras afirmações. Há também pareceres que questionam se a ausência de mulheres e de produção (musical e teórica) de mulheres em subáreas da música é mesmo um problema, ou se é mesmo necessário problematizar o contexto e a história de vida das mulheres abordadas em pesquisa (como compositoras, intérpretes, etc.) sob perspectivas de gênero e feministas. Optamos por não reproduzir os pareceres neste texto. A expressão dessas indagações e afirmações (na maioria das vezes arbitrárias, categóricas e sem embasamento bibliográfico, teórico e crítico), em pareceres científicos, são alguns exemplos de resistências, pressões e imposições externas ao campo, e de disputas que perpassam a relação de um campo com outros (macro) campos com os quais ele se relaciona – disputas atravessadas por relações de força e de dominação, por atos de (não) reconhecimento, por fenômenos de concentração de capital e de poder científicos - como os/as descritos/as por Bourdieu (2003). Essa é uma situação observada não só em algumas subáreas do macro campo acadêmico da música no Brasil como também em diversos outros lugares do mundo.

A abertura, diversificação e ampliação nos temas e perspectivas dos trabalhos dos últimos dez anos, aproximadamente, no campo de música e gênero, também chamam nossa atenção: questões de gênero, étnico-raciais, de enorme diversidade estética, cultural, subjetiva, geográfica e de classe passam a ser abordadas como centrais, nos títulos das publicações e pesquisas, especialmente a partir dos anos 2000. Estas produções contrariam e/ou transformam pressupostos científicos predominantes em grande parte das pesquisas acadêmicas em música no Brasil, como os anteriormente mencionados. Tal abertura, ampliação e diversificação temática e de abordagens suprem lacunas de problematização na pesquisa em música no Brasil como questões etárias, de gênero, étnico-raciais, resgate histórico de mulheres simbólicas para a música brasileira e outras – pontos de falta e carência na produção de conhecimento em música no Brasil apontadas por pesquisadoras do campo de música e gênero como Maria Ignez Cruz Mello (Mello, 2007).

Estes trabalhos no campo de música e gênero no Brasil (aqui com dados de 1978 até meados de 2017) são, em certa medida, produzidos no âmbito de programas de pós-graduação em música e em outros campos do conhecimento e, muitas vezes, também são total ou parcialmente publicados por revistas e editoras acadêmicas e anais de congressos, que se configuram como canais de divulgação da produção entendida como científica. A partir disto, destacamos a importância da expansão do ensino superior e da pesquisa no Brasil, observadas especialmente no começo do século XXI, bem como do desenvolvimento da música como área de investigação e como campo produtor de conhecimento nos programas de pós-graduação brasileiros, onde são verificadas maiores ou menores possibilidades de acolhida de temas aqui abordados através das pesquisas (não sem dificuldades, rejeições, barreiras e segregações).

Se observarmos o campo em emergência de música e gênero no Brasil e seus/uas agentes, também como agentes do próprio campo, percebemos, em maior, menor ou ainda em nulo grau, na medida em que o campo emerge, algumas das elaborações de Bourdieu (2003) relacionadas ao/ e constitutivas de um campo, como: alguma autonomia relativa (mesmo que mínima, em muitos casos); heteronomia com relação a macro-campos sociais e à diversas estruturas de poder; dinâmicas internas; jogos e relações de força; disputas internas; inter-relações, condição necessariamente relacional entre os discursos e produções, estrutura de relações objetivas entre as/os agentes do campo; pressões, barreiras e imposições externas ao campo; resistências e mecanismos acionados para escapar das forças externas ao campo; circunstâncias que permitem auto-reconhecimento e reconhecimento de determinações e características internas do/ao campo; desenvolvimento de capacidade de refração e retradução das pressões e imposições externas; existência de uma ou mais lógicas e estratégias próprias ao/do campo; oportunidades, tendências, regularidades, domínios, possibilidades e impossibilidades do campo e de seus/uas agentes; existência, reconhecimento (ou não) e distribuição do capital científico dentro do próprio campo, entre outros aspectos (Bourdieu, 2003, pp. 17 - 29).

5. Música e gênero no Brasil: relações internas e externas em malhas híbridas

As reflexões de gênero têm sido entendidas também como frutos de entrelaçamentos entre teoria e prática e de inter-relações entre diferentes campos normativos (Rago, 2012, p. 37; hooks, 2013). Partindo de preocupações com a historicização, e compreensão do campo emergente de música e gênero enquanto universo plural e heterogêneo, traçamos aqui algumas reflexões sobre as imbricações entre as musicologias e epistemologias feministas e a necessária relação entre teoria e prática no campo. Os estudos de gênero constituem, em si, outra epistemologia, uma forma de trabalhar e conceber a pesquisa que abarca não apenas a temática como elemento central, mas também os processos que envolvem a concepção e o desenvolvimento da pesquisa, e principalmente, a forma de olhar e compreender o objeto, em uma “des-hierarquização” sistêmica. Parte-se do princípio de que os conhecimentos são situados, e, assim, os olhares não são neutros: pesquisadoras/es estão imbricadas/os com seu objeto e em seu trabalho, então, cada processo de tomada de decisão precisa incluir os conceitos que estão sendo trabalhados na pesquisa (Rago, 2012, pp. 37-46).

bell hooks (2013) reflete sobre o ensino nas universidades, destacando os processos que levam à inclusão ou ao silenciamento, e observa a necessidade de fala e a necessidade de escuta de cada uma das vozes dentro dos grupos (e campos), com contínuo estímulo para que estas se manifestem. Ao mesmo tempo, hooks observa a necessidade de que cada pessoa dos grupos possa reconhecer os seus próprios privilégios, vindos do seu lugar de fala (advindo de sua história de vida e de sua posição social), e que se possa estar atento/a para estabelecer uma desconstrução constante destes, ao mesmo tempo em que se aja conscientemente para proporcionar uma nova oportunidade de fala para todas as pessoas dentro do grupo. Para ela há aí também a necessidade da inclusão, nos processos de trabalho, de dinâmicas de desconstrução pessoal, coletiva e relacional das práticas hegemônicas, e a necessidade de questionamento sobre conceitos cristalizados.

A partir das reflexões da autora observamos a importância do estabelecimento destas dinâmicas nos grupos de trabalho, nas relações acadêmicas e nos processos cooperativos no “campo que está emergindo”, para que se possa ouvir e reconhecer todas as vozes e marcos deste campo plural, e para que se possa construir conhecimentos em música e gênero também através de processos e formas outras/os de olhar, compreender, escutar sujeitos/as, objetos, fontes, temas, colaboradoras/es e comunidades de pesquisa. Se hooks destaca a necessidade de conceitos teóricos perpassarem a desconstrução das práticas e dos lugares hegemônicos ocupados por cada uma das pessoas dentro de grupos, Lídia Possas (2001) aponta a necessidade de construção e reconstrução constante de pressupostos e categorias de análise e teóricas para que seja possível percebermos novas mudanças, possibilidades e protagonismos:

“Na qualidade de historiadora que não acredita nas repetições de eventos e acontecimentos do passado, enfatizo uma perspectiva de história que a todo momento constrói e reconstrói o vivido, que tem como tarefa de ofício rever constantemente os conceitos e as categorias de análise vivenciados em outras realidades, percebendo a dinâmica dos pressupostos que fundamentam o conhecimento científico, agora sendo colocado em constante mudança e possibilidades de análises. E, sendo mulher, assumo um interesse mais específico em relacionar essas discussões com as lutas, os conflitos, a busca de identidades que envolveram e ainda envolvem o sujeito feminino para refletir sobre as categorias teóricas construídas tendo em vista novos protagonismos que fogem aos estereótipos conservados pela historiografia clássica, amparadas em paradigmas universais” (Possas, 2011, p. 64).

Femenías (2007) chama a atenção para as populações fundamentalmente diversificadas nos contextos latino-americanos e nos alerta para a importância de tomarmos consciência das interseccionalidades nas opressões que atingem as mulheres latino-americanas diferentemente: “O desafio mais importante que se impõe para nós é detectar e instar nas intersecções em que cor, classe, religião, etnia e sexo-gênero [et al] potencializam a exclusão e geram distorções alheias à populações com mais altos graus de homonegeidade” (Femenías, 2007, p.17).8 Nesse sentido a autora apresenta um feminismo latino-americano que “Nasce de narrativas múltiplas e tradições diversas e que incluem ab initio transversalizações entre etnia, classe, gênero, [geografia, idade, corporalidade] e religião, outros em outros contextos” (Femenías, 2007, p. 24).9

Dentro das necessidades constantes de desconstrução e reconstrução mencionadas, vemos a importância do questionamento, em exercício contínuo, dos silenciamentos, hegemonias, exclusões e invisibilizações (praticados entre/ intra grupos, coletivos, núcleos, redes, departamentos, programas, associações, subáreas, áreas, campos de conhecimento, macro campos científicos e afins), da desconsideração acadêmica sobre os projetos e produções sobre música e gênero (explícita ou implícita) - sob a justificativa da necessidade suposta de neutralidade e dessubjetivação absolutas - práticas que ainda hoje nos vemos obrigadas/os a enfrentar continuamente. O campo emergente requer busca por resistências, refrações, retraduções e estratégias de (auto) transformação que incluem, entre outras: atenção para com as mudanças dos pressupostos do conhecimento científico em música e em geral; ultrapassamento de estereótipos e dos paradigmas universalistas e científicos dominantes na historiografia clássica e tidos como tradicionais e ainda válidos na pesquisa em música; consciência de processos e mecanismos de invisibilização e silenciamento; práticas de escuta e de reconhecimento; desconstruções e reconstruções (objetivas e subjetivas); reconhecimento e inclusão das pluralidades, diferenças, diversidades e de múltiplas vozes, experiências e existências. Esses e outros processos são necessários – ou, no mínimo importantes - para que a própria formação e constituição híbrida, diversa, heterogênea, múltipla, plural e coletiva do campo possa ser, de fato, reconhecida, legitimada, validada, visibilizada e audibilizada.

5. À procura de considerações finais

Como considerações finais, mas não conclusivas desta etapa do trabalho, observamos o reconhecimento da emergência e da existência do campo de música e gênero no Brasil. Observamos que suas produções, agentes e práticas, em toda sua diversidade, têm valor per se: pelos resultados apontados pelo mapeamento em andamento, pelas contribuições do campo para o macro campo da música e para o universo social mais amplo, pelo reconhecimento e pela “escuta” de um campo relacionado à questões e sujeitos/as histórica e sistematicamente excluídos. O campo de música e gênero está situado e em relação com o campo da música, que é, ainda hoje, predominantemente masculino, branco, androcêntrico, eurocêntrico, marcado pela constante e crônica exclusão e silenciamento de mulheres (e de outros grupos social e historicamente marginalizados), desconsideração de perspectivas críticas feministas/ de gênero/ interseccionais e de questões de gênero (e também de questões étnico-raciais, geopolíticas, classistas, culturais e outras). Como apontado por Sandra Harding, “(...) a profundidade das transformações que as análises feministas requerem é subestimada (…)” (Harding, 1987, p. 2).10

Essa pesquisa, assim como outras, talvez possa provocar ou contribuir com transformações profundas através de análises e reflexões feministas que indicam a emergência do campo de música e gênero no contexto do país. Estas constatações e análises são advindas de resultados de pesquisa quantitativa originada em teorias, críticas e desafios feministas para a/ na música, na construção de conhecimento inter/ multi/ trans disciplinar em música, e em processos de reconhecimento de campos científicos. Reconhecer a emergência do campo de música e gênero no Brasil passa pela transformação da própria estrutura do macro campo da música no país, incluindo (re)construções e desconstruções epistemológicas, mudanças de paradigmas e criações de espaços de (r)existências. Estar nesse campo envolve, em maior ou menor medida, construções e desconstruções subjetivas que passam pelas relações entre teorias e práticas feministas (consigo, com as/os outras/os agentes do campo, e com as diversas comunidades que compõem o campo).

Visibilizar a emergência do campo de música e gênero como campo científico é, também, estratégia de resistências, de refrações e de retraduções das pressões e imposições externas ao campo a fim de que seja possível o reconhecimento de suas próprias determinações e possibilidades. O levantamento quantitativo aqui apresentado atesta a existência de condições necessárias para que isso aconteça: nunca antes houve tantas pessoas estudando, pesquisando, criando, entrando em contato com o tema e produzindo conhecimento no campo. Há também um número expressivo de pessoas do e no campo, empenhadas em criar articulações e ações em prol do campo. Há, sobretudo a partir de 2010, diversos pontos e ações que legitimam, validam, atestam e reconhecem o campo - apesar de todas as resistências, barreiras, imposições, pressões, exclusões e dificuldades enfrentadas. Femenías afirma que “O feminismo latino-americano têm algo a dizer e o faz com sua própria voz” (Femenías, 2007, p. 24).11 Concluímos esse texto parafraseando Femenías: O campo de música e gênero no Brasil têm algo a dizer e o faz com suas próprias vozes múltiplas. Que o campo possa ser ouvido, escutado, reconhecido.





Anexo

Quadro 1: Trabalhos encontrados sobre "mulheres, feminismos, gênero e música”, no Brasil, até o momento, agrupados por décadas.

Década

Publicação ou pesquisa (Título, tipo, autor/a, ano)

1970s

A pioneira Chiquinha Gonzaga”, livro, Geysa Bôscoli, (1978).


Carmen Miranda, a cantora do Brasil”, livro, Abel Cardoso Júnior, (1978).


Chiquinha Gonzaga: Grande Compositora Popular Brasileira”, livro, Mariza Lira, (1978).

1980s

Dias e Caminhos seus Mapas e Partituras”, livro auto-biográfico (de uma compositora), Jocy de Oliveira, (1983).


Chiquinha Gonzaga: uma história de vida”, livro, Edinha Diniz, (1984).


Nós, as mulheres: notícia sobre as compositoras brasileiras”, livro, Eli Maria Rocha, (1986).


Eunice Katunda: informações biográficas e catálogo de obras”, livro, Carlos Kater, (1987)


Mulheres Compositoras”, livro, Nilcéia Cleide da Silva Baroncelli, (1987).


Elas também tocam jazz”, livro, Luiz Orlando Carneiro, (1989).

1990s

Carmem Costa, uma cantora do rádio”, livro, João Carlos Viegas, (1991).


O balanço de Chiquinha Gonzaga: do carnaval a opereta”, dissertação de mestrado, Adriana Fernandes, (1995).


Canções de Dinorá de Carvalho: uma análise interpretativa”, dissertação de mestrado, Flavio Cardoso de Carvalho, (1996).


Chiquinha Gonzaga: sofri e chorei, tive muito amor”, livro, Dalva Lazaroni de Moraes, (1999).


Personagens femininas em comédia musical - 1985 a 1995”, dissertação de mestrado, Marilda de Santana Silva, (1999).

2000s

A memória social de Chiquinha Gonzaga”, livro, Cleusa de Souza Millan, (2000).


Crianças famosas - Chiquinha Gonzaga”, livro, Edinha Diniz, (2000).


Música no espaço escolar e a construção da identidade de gênero: Um estudo de caso”, dissertação de mestrado, Helena Lopes da Silva, (2000).


Nany: suíte em cinco movimentos para uma violoncelista”, livro (sobre a violoncelista Nany Devos), Valdinha Barbosa, (2000).


Crepúsculo de outono op.25 n.2 para canto e piano de Helza Camêu: aspectos analíticos, interpretativos e biografia da compositora”, dissertação de mestrado, Luciana Monteiro de Castro Silva Dutra, (2001).


El pianismo en la ciudad de Pelotas (RS, Brasil) de 1918 a 1968: una lectura histórica, musicológica y antropológica”, tese de doutorado (aborda questões relacionadas às mulheres a partir de trabalho iconográfico), Isabel Porto Nogueira, (2001).


Eunice Katunda: musicista brasileira”, livro, Carlos Kater, (2001).


Mestres da Música no Brasil - Chiquinha Gonzaga", livro, Edinha Diniz, (2001).


Leniza & Elis: duas cantora, dois intérpretes”, livro, Ariovaldo José Vidal e Joaquim Alves de Aguiar, (2002).


A jovem Chiquinha Gonzaga”, livro, Ayrton Mugnaini Junior, (2005).


Alice Ruiz, Alzira Espíndola, Tetê Espíndola e Ná Ozzetti: produção musical feminina na Vanguarda Paulista”, dissertação de mestrado, Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel, (2005).


Epahei Iansã! Música e Resistência na nação Xambá: uma história de mulheres”, dissertação de mestrado, Laila Andressa Cavalcante Rosa, (2005).


Iamurikuma: Música, Mito e Ritual entre os Wauja do Alto Xingu”, tese de doutorado, Maria Ignez Mello Cruz, (2005).


Mulheres Pianistas e Compositoras nos Salões Aristocráticos do Rio de Janeiro - 1870-1910”, dissertação de mestrado, Angela Celis Henriques Portela, (2005).


Rap de batom: família, educação e gênero no universo rap”, dissertação de mestrado, Mariana Semião de Lima, (2005).


As mulheres de Chico: uma análise modular de canções produzidas no período da Ditadura Militar”, dissertação de mestrado, Janaina de Assis Rufino, (2006).


Cinco mulheres compositoras na música erudita brasileira contemporânea”, dissertação de mestrado em música, Tânia Mello Neiva, (2006).


Eunice Katunda (1915-1990) e Esther Scliar (1926-1978): Trajetórias Individuais e Análise de ‘Sonata de Louvação’” (1960) e ‘Sonata para Piano’ (1961)”, tese de doutorado, Joana Cunha de Holanda, (2006).


Mulheres no hip hop: identidades e representações”, dissertação de mestrado, Priscila Saemi Matsunaga, (2006).


Músicos de orquestra: um estudo sobre trabalho e educação no campo das artes”, dissertação de mestrado (com abordagem de relações de gênero), Dilma Fabri Marão Pichoneri, (2006).


Safo novella: uma poética do abandono nos lamentos de Barbara Strozzi (1619 - 1677)”, tese de doutorado, Silvana Ruffier Scarinci, (2006).


As donas e as vozes: Uma interpretação sociológica do sucesso das estrelas-intérpretes no Carnaval de Salvador”, tese de doutorado, Marilda de Santana Silva, (2007).


Comunidade Rock e Bandas Independentes da Cidade de Florianópolis: Uma Etnografia Sobre Socialidade e Concepções Musicais”, dissertação de mestrado (com abordagem de questões de gênero presentes no grupo pesquisado), Tatyana de Alencar Jacques, (2007).


Clara Schumann: Compositora x Mulher de Compositor”, dissertação de mestrado, Eliana Maria de Almeida Monteiro da Silva, (2008).


Confluências do passado e do presente: o resgate da memória em O canto das Lavadeiras”, dissertação de mestrado, Sâmara Rodrigues de Ataíde, (2008).


Cultura juvenil feminista Riot Grrrl em São Paulo”, dissertação de mestrado (com abordagem de relações de gênero na cultura e na música punk), Erica Isabel de Melo, (2008). 


Minas da Rima: jovens mulheres no movimento hip-hop de Belo Horizonte”, dissertação de mestrado em educação, Camila do Carmo Said, (2008).


Safo Novella”, livro, Silvana Ruffier Scarinci, (2008).


Saravá, Bethânia!? A valorização das religiões afro-brasileiras na obra da cantora Maria Bethânia (1965-1978)”, dissertação de mestrado, Marlon de Souza Silva, (2008).


As donas do canto: Uma interpretação sociológica das estrelas-intérpretes no Carnaval de Salvador”, livro, Marilda de Santana Silva, (2009).


A caminhada é longa e o chão tá liso: o movimento hip hop em Florianópolis e Lisboa”, tese de doutorado (com abordagem de questões de gênero presentes no grupo pesquisado), Angela Maria de Souza, (2009).


A cantora Joaquina Lapinha: sua contribuição para o repertório de soprano coloratura no período colonial brasileiro”, dissertação de mestrado, Alexandra van Leeuwen, (2009).


A obra para canto e piano de Eunice Katunda: três momentos”, dissertação de mestrado, Melina de Lima Peixoto, (2009).


As juremeiras da nação Xamba (Olinda, PE): mulheres, religião, música e poder”, tese de doutorado em música, Laila Andressa Cavalcante Rosa, (2009).


Chiquinha Gonzaga e o Maxixe”, dissertação de mestrado, Carla Crevelanti Marcilio, (2009).


Festa da Boa Morte e Glória: ritual, música e performance”, tese de doutorado (com abordagem de uma irmandade de mulheres idosas), Franscisca Helena Marques, (2009).


Louvação a Eunice: um estudo de análise da obra para piano de Eunice Katunda”, tese de doutorado, Iracele Aparecida Vera Lívero de Souza, (2009).


““Mara sulada e dã ku torno”: performance, gênero e corporeidades no grupo de batukadeiras de São Martinho Grande (Cabo Verde)”, dissertação de mestrado, Carla Indira Carvalho Semedo, (2009).


Ratoeira não me prende que eu não tenho que me solta: música de tradição oral e identidade cultural no litoral catarinense”, dissertação de mestrado (com abordagem de questões de gênero em grupo de mulheres), Rodrigo Moreira da Silva, (2009).


Traduções da lírica de Manuel Bandeira na canção de câmara de Helza Camêu”, tese de doutorado, Luciana Monteiro de Castro Silva Dutra, (2009).


Vozes femininas presentificadas em O canto das lavadeiras”, dissertação de mestrado, Sâmara Rodrigues de Ataíde, (2009).

2010s

Ekodidé: relações de gênero no contexto dos afoxés culto nagô no Recife”, dissertação de mestrado, Ester Monteiro de Souza, (2010).


Entrelaçando Corpos e Letras: representações de gênero nos pagodes baianos”, dissertação de mestrado, Clebemilton Gomes do Nascimento, (2010).


““Funk-se quem quiser” no batidão negro da cidade carioca”, tese de doutorado, Adriana Carvalho Lopes, (2010).


Indivíduo músico, "música universal": uma etnografia na Itiberê Orquestra Família”, tese de doutorado (com abordagem de questões de gênero presentes no grupo pesquisado), Vânia Beatriz Müller, (2010).


Música e Patriarcado, Reprodução das Relações de Gênero na Educação Musical”, dissertação de mestrado em música, Thalita Couto, (2010).


Navalhanaliga: a poética feminista de Alice Ruiz”, tese de doutorado, Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel, (2010).


““Se quiser, é assim": uma análise léxico-gramatical da representação feminina em letras de forró eletrônico”, dissertação de mestrado, Cláudia Caminha Lopes Rodrigues, (2010).


As minhas meninas: análise de estratégias discursivas em canções buarqueanas produzidas no período da Ditadura Militar”, tese de doutorado, Janaina de Assis Rufino, (2011).


Chanteuses e Cabarés: a performance musical como mediadora dos discursos de gênero na Porto Alegre do início do século XX”, dissertação de mestrado, Fabiane Behling Luckow, (2011).


Clara Schumann: compositora x mulher de compositor”, livro, Eliana Maria de Almeida Monteiro da Silva, (2011).


Contrastes de Marisa Rezende: um estudo dos toques pianísticos na música contemporânea brasileira”, dissertação de mestrado, Tatiana Dumas Macedo, (2011).


Entre palcos e páginas: a produção escrita por mulheres sobre música na História da educação musical no Brasil (1907-1958)”, tese de doutorado, Susana Cecília Almeida Igayara de Souza, (2011).


Rainhas, mestres e tambores: gênero, corpo e artefatos no maracatu nação pernambucano”, dissertação de mestrado, Jailma Maria Oliveira, (2011).


Ratoeira: Música de tradição oral e identidade cultural”, livro (com abordagem de questões de gênero em grupo de mulheres), Rodrigo Moreira da Silva, (2011).


Relações de trabalho em música: a desestabilização da harmonia”, tese de doutorado (com abordagem de relações de gênero), Dilma Fabri Marão Pichoneri, (2011).


Renome, Vocação e Gênero: duas musicistas brasileiras”, dissertação de mestrado, Dalila Vasconcellos de Carvalho, (2011).


Samba no feminino: transformações das relações de gênero no samba carioca nas três primeiras décadas do século XX”, dissertação de mestrado, Rodrigo Cantos Savelli Gomes (2011).


A menina boba e a Discoteca”, dissertação de mestrado (sobre Oneyda Alvarenga), Valquíria Marotti Carozze, (2012).


Malinconia d'amore: a melancolia e os lamentos femininos da ópera veneziana de meados do século XVII”, dissertação de mestrado, Viviane Alves Kubo, (2012).


Música, Gênero e Materialidade: Categorias Transbordantes”, dissertação de mestrado, Talitha Couto Moreira Lara, (2012).


O gênero da música: construção social da vocação”, livro, Dalila Vasconcellos de Carvalho, (2012).


Poderosas, Divinas e Maravilhosas: o imaginário e a sociabilidade homossexual masculina construídos em torno das cantoras de MPB”, dissertação de mestrado, Rafael da Silva Noleto, (2012).


Articulações pedagógicas no coro das ganhadeiras de Itapuã: um estudo de caso etnográfico”, tese de doutorado (com abordagem de relações de gênero), Harue Tanaka Sorrentino, (2013)


As jovens e o Movimento Hip Hop: um estudo sobre juventude e gênero”, dissertação de mestrado, Maria Natália Matias Rodrigues, (2013).


Atuação feminina no cenário musical do Rio de Janeiro (1890-1910)”, dissertação de mestrado, Aline Santos da Paz de Souza, (2013).


Construindo desejos e diferenças: uma etnografia da cena indie rock paulistana”, dissertação de mestrado (com abordagem de questões de gênero no grupo pesquisado), Ane Talita da Silva Rocha, (2013).


Do boi às índias: poder ou controle sobre a sexualidade de mulheres na cultura popular do Maranhão?”, dissertação de mestrado, Patricia Georgia Barreto de Lima, (2013).


Estudos de Gênero, Corpo e Música”, livro, Isabel Nogueira e Susan Campos Fonseca (organizadoras), (2013).


Homofobia, efeminação e musicologia”, doutorado em andamento, Jorge Israel Ortiz Vergara, (iniciado em 2013).


A filha da Dona Lecy: estudo da trajetória de Leci Brandão”, dissertação de mestrado, Fernanda Kalianny Martins Sousa, (2014).


Beatriz Balzi e o piano da América Latina”, tese de doutorado em processos de criação musical, Eliana Maria de Almeida Monteiro da Silva, (2014).


Diálogo com Cartas”, livro auto-biográfico (de uma compositora), Jocy de Oliveira, (2014).


Musas e Músicas: a mulher por trás da canção”, livro, Rosane Queiroz. (2014)


““Niña que el clarinete es solo pa' hombres": Performance e relações de gênero nos conjuntos de chirimía em Quibdó-Chocó (Colômbia)”, dissertação de mestrado, Marcela Velásquez Cuartas, (2014).


O canto feminino na América Portuguesa: diálogos e intersecções na representação colonial de La modista raggiratrice de Paisiello”, tese de doutorado, Alexandra van Leeuwen, (2014).


““Sai, Catarina / Saia do mar, venha ver Idalina". Gênero e feminilidade(s) na capoeira”, dissertação de mestrado, Paula Natanny Rocha Bezerra, (2014). 


Texto, música e cena de Elis Regina em “Alô, alô marciano” de Rita Lee e Roberto de Carvalho”, dissertação de mestrado, Deniele Naiara Perotti Mello, (2014).


As mestras de Belém do Pará”, doutorado em andamento (com abordagem feminista das mestras da cultura popular de Belém do Pará), Jorgete Maria Portal Lago, (iniciado em 2014).


Entre vinhos e chás: imigrantes, mulheres e a institucionalização da prática musical em São Paulo na década de 1910”, doutorado em andamento, Fernando Pereira Binder, (iniciado em 2014).


Maracatus em perspectiva: gênero, raça e classe nos maracatus nação pernambucanos e cearenses”, doutorado em andamento, Jailma Maria Oliveira, (iniciado em 2014).


Mulheres Brasileiras Na Música Experimental: uma Abordagem Feminista”, doutorado em andamento, Tânia Mello Neiva (iniciado em 2014).


A composição de uma pioneira: De Francisca à Chiquinha”, dissertação de mestrado, Rafael do Nascimento Cesar, (2015).


A obra pianística de Marisa Rezende: processos de construção da performance através da interação entre intérprete e compositora”, dissertação de mestrado, Dario Rodrigues Silva, (2015).


Angela Maria: A eterna cantora do Brasil”, livro, Rodrigo Faour, (2015).


““As mais tocadas": uma análise de representações da mulher em letras de canções sertanejas”, dissertação de mestrado, Amanda Ágata Contieri, (2015).


Compositoras brasileiras e o processo de criação musical: uma análise aplicada à musicologia de gênero”, dissertação de mestrado, Rita de Cássia Moiteiro, (2015).


Finas flores: mulheres letristas na canção brasileira”, livro, Jorge Marques, (2015).


Funk carioca, voz feminina e o caso Tati Quebra-Barraco”, dissertação de mestrado, Letícia Laurindo de Bonfim, (2015).


My pussy é o poder. Representação feminina através do funk: identidade, feminismo e indústria cultural”, dissertação de mestrado, Mariana Gomes Caetano, (2015) 


Sept Papillons de Kaija Saariaho: análise musical e aspectos da performance”, dissertação de mestrado, Camila Durães Zerbinatti, (2015).”


THALIA e MELPOMENE: Anna Renzi, o nascimento da "prima donna" “, dissertação de mestrado, Márcia Eloiza Kayser, (2015).


A identidade regional na consolidação de um gênero musical: uma análise a partir do olhar da performance feminina”, mestrado em andamento, Mariana Marcela de Santana Duarte (iniciado em 2015).


As cantoras e os músicos: Relações de poder na indústria fonográfica brasileira", doutorado em andamento, Bruna Queiroz Prado, (iniciado em 2015).


Batalha das manas: o rap como território de disputas no espaço urbano”, mestrado em andamento, Heloísa Petry, (iniciado em 2015).


Chiquinha Gonzaga e o Choro: uma antropologia das relações de gênero na constituição dos gêneros musicais”, doutorado em andamento, Rodrigo Cantos Savelli Gomes, (iniciado em 2015).


“Compondo e cantando o gênero: um debate com cantoras-compositoras do Rio de Janeiro/RJ”, mestrado em andamento, Luísa Damaceno de Lacerda, (iniciado em 2015).


Escrevivências de Mulheres Negras: processos de escrita, composição e subjetivação”, doutorado em andamento, Anni Carneiro, (iniciado em 2015).


Gal-Fatal - investigações sobre o uso da voz”, mestrando em andamento, Maria Elisa Xavier de Miranda Pompeu, (iniciado em 2015).


Gênero e sexualidade nas carreiras de ícones lésbicos da música popular brasileira”, doutorado em andamento, Adélia de Souza Procópio, (iniciado em 2015).


Mulheres egressas do Instituto Nacional de Música e os desdobramentos na atuação musical feminina nos palcos cariocas (1890-1920)”, doutorado em andamento, Aline Santos da Paz de Souza, (iniciado em 2015).


O método Esther Scliar: uma proposta para o ensino de Percepção Musical”, mestrado em andamento, Fernando Pereira da Silva Sobrinho, (iniciado em 2015).


Samba de Roda, representatividade e memória coletiva: as experiências do Samba de Roda de Dona Dalva (Suerdieck) no empoderamento de mulheres negras”, mestrado em andamento, Francimária Ribeiro Gomes, (iniciado em 2015).


Texto, música e cena de Elis Regina no espetáculo musical Falso Brilhante (1975)”, doutorado em andamento, Deniele Naiara Perotti Mello, (iniciado em 2015)


Voz-ruído na canção popular brasileira: a expressividade das vozes femininas do samba-canção da década de 1950”, mestrado em andamento, Rafaela Rohsbacker Gonzalez, (iniciado em 2015).


A diversidade de gênero e sexualidade na perspectiva de licenciados/as em música”, tese de doutorado, Vivian Regina Siedlecki, (2016).


As bambas do samba: mulher e poder na roda”, livro, Marilda Santanna (organizadora), (2016).


As mulheres do Funk Carioca”, dissertação de mestrado, Ishtar Maria Rincón Álvarez, (2016).


As subjetividades e feminilidades no Coração Nazareno: um estudo etnográfico em um Maracatu de Baque Solto Feminino de Nazaré da Mata”, dissertação de mestrado, Tamar Alessandra Thalez Vasconcelos, (2016).


Brilham estrelas de São João: gênero, raça e sexualidade em performance nas festas juninas de Belém - PA”, tese de doutorado, Rafael da Silva Noleto, (2016).


Corpos Brancos, Música Negra: Uma tentativa de definição de que negra é essa, cantada por Valesca Popozuda”, Viviane Faria Soares, dissertação de mestrado, (2016).


Entre ‘perifeminas’ e ‘minas de artilharia’: participação e identidades de mulheres no hip hop e no funk”, dissertação de mestrado, Izabela Nalio Ramos, (2016).


Maria Helena Rosas Fernandes: catálogo comentado da obra completa e fases composicionais”, dissertação de mestrado, Juliana Delborgo Abra Olivato, (2016).


Travestilidade masculina no Maracatu Rural pernambucano: Gênero, ritual e performance em Nazaré da Mata/PE”, tese de doutorado, Anderson Vicente da Silva, (2016).


As Mulheres na MPBI: Uma Análise a partir da Performance do Quartabê”, Danielly Mayara Dantas de Medeiros, mestrado em andamento, (iniciado em 2016).


Compositoras Latino-americanas: vida-obra-análise de peças para piano”, pós-doutorado em andamento, Eliana Maria de Almeida Monteiro da Silva, (iniciado em 2016).


Gênero e cultura popular - o caso do coco raízes de Arcoverde”, mestrado em andamento, Danielly Amorim Q. Jales, (iniciado em 2016).


Gênero e cultura popular - o caso do Maracatu Nação”, mestrado em andamento, Suênia Claudiana de N. Pinto, (iniciado em 2016).


Gênero e memória no arquivo de Sílvia Chalreo”, mestrado em andamento, Ana Lúcia Queiroz, (iniciado em 2016).”


Mulheres Criando”, mestrado em andamento, Alexandra Martins Costa, (iniciado em 2016).


Raperas Negras Latino-Americanas”, mestrado em andamento, Ariana Mara da Silva, (iniciado em 2016).


A mulher compositora e o violão na década de 1970: vertentes analíticas e contextualização histórico-estilística”, dissertação de mestrado, Mayara Amaral, (2017).


As representações de mulheres nas canções de Odair José (1970-1980)”, dissertação de mestrado, Cristiane Pereira Martins, (2017).


Cartografias da Canção Feminina: Compositoras brasileiras no século XX”, pós-doutorado, Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel, (2017).


MPB no feminino: notas sobre relações de gênero na música brasileira”, livro, Rodrigo Cantos Savelli Gomes, (2017).


Lídia de Oxum: dramas que entretecem a estética feminina negra”, mestrado em andamento, Antonilde Rosa Pires, (iniciado em 2017).


Tocar, ouvir e reconhecer mulheres do Sul do mundo: Uma pesquisa teórico-prática com músicas de compositoras brasileiras para violoncelo solo”, doutorado em andamento, Camila Durães Zerbinatti, (iniciado em 2017).



Notas

1 Nuestra respuesta apela al locus y al ubi de nuestra condición geo-sociopolítica, a nuestra conciencia de real contribución al discurso feminista y al modo en que nos permite organizar explicaciones alternativas en términos de contribuciones teóricas que favorezcan la mejor elaboración, clarificación y comprensión de tesis ajenas tamizadas por nuestra experiencia crítica. Tales conocimientos – posicionados, parciales, localizados – admiten la posibilidad de conexiones en sistemas dislocados que den mejor cuenta de nuestra situación. Por eso, un primer paso es revisar nuestras propias contribuciones teóricas resignificadas (Femenías, 2007, p. 14).

2 “(...) una suerte de locus catalizador que favorece conceptualizaciones y las prácticas novedosas y alternativas” (Femenías, 2007, p. 24). Tradução nossa.

3 A autora, feminista e ativista estadunidense bell hooks, opta por grafar seu nome e sobrenome apenas com letras minúsculas. Nesse artigo optamos por seguir sua escolha.

4 “(...) the history of women in music is worth researching (…)” (Mcclary, 1993, p. 402). Tradução nossa.

5 “ruptura político-epistemológica de los contextos naturalizados” “(...) espacios diversos para pensar, explicar y dar voz propia a las múltiples fuerzas étnicas, sexuales, económicas, culturales que se precipitan en el lugar de lo nuevo” (Femenías, 2007, p. 15). Tradução nossa.

6 “(…) seek to recue from obscurity the women and the women´s musical work (compositional or otherwise) that have been marginalized in musicology´s narratives” (Cusick, 2001, p. 484). Tradução nossa.

7 A Nova Musicologia surge nos anos 1980, no norte global, no contexto da virada cultural e crítica dos anos 1970, como uma reação à musicologia positivista tradicional.

8 “El desafío más importante que se nos impone es detectar y urgar en las intersecciones donde color, clase, religión, etnia, sexo-género potencian la exclusión y generan distorsiones ajenas a poblaciones con más altos grados de homogeneidad” (Femenías, 2007, p. 17). Tradução nossa.

9 “Nace de narrativas múltiples y tradiciones diversas que incluyen ab initio transversalizaciones de etnia, clase, género y religión, ajenas en otros contextos” (Femenías, 2007, p. 24). Tradução nossa.

10 “(...) se subestima la profundidad de las transformaciones que requieren los análisis feministas (Harding, 1987, p. 2) Tradução nossa.

11 “ El feminismo latinoamericano tiene algo que decir y lo hace en propia voz” (Femenías, 2007, p. 24). Tradução nossa.




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Fecha de recibido: 24 de junio de 2017
Fecha de aceptado: 12 de septiembre de 2017
Fecha de publicado: 9 de marzo de 2018

 

 

 

 

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